Ensaio > Honda 'e' Advance
De linhas suaves e minimalistas o Honda e nasce como tributo à série N do final dos anos 60 e à primeira geração do Civic. Assim como estes foram modelos de extrema importância para a marca japonesa, o Honda e segue esse legado como o primeiro veículo 100% elétrico (BEV) da Honda na Europa.
Tendo testado praticamente todos os modelos da Honda disponíveis no mercado português nos
passados 7 anos e possuído vários modelos de várias gerações, nenhum gerou um
efeito psicológico e irracional como este pequeno Honda (e eu que nem sou
entusiasta de pequenos citadinos)... pensando melhor, por outras emoções
geradas, junto o Civic Type R a esta lista "precisar não preciso, mas
quero".
DESIGN E EQUIPAMENTO
Neste revivalismo vencedor do
prémio Red Dot 2020, a Honda quebrou com o design contemporâneo de linhas vincadas e aberturas
por tudo o que é lado, dando ao seu primeiro veículo elétrico europeu um
visual muito próprio e que, segundo a marca, irá caracterizar outros elétricos
que poderão surgir.
Na frente, especialmente nas cores mais claras, sobressai a "grelha" preta que
integra os faróis redondos LED, o emblema delineado a azul e o botão para
abertura da portinhola em vidro negro de acesso à tomada para carregamento, a
traseira mimetiza a frente com a mesma barra negra a incorporar os farolins
LED e a câmara traseira.
Tudo parece funcionar em perfeita harmonia, com
a forma da "grelha" a ser reproduzida em vários elementos do carro como nos
puxadores embutidos, nos "espelhos" retrovisores, nos raios das jantes de 17",
nos faróis de nevoeiro e nas luzes dos travões e marcha-atrás, ou ainda na
concavidade que aloja as matriculas, com a linha lateral do capô que continua
através de um vinco até à traseira, delineando o pilar C até ao tejadilho, ou
mesmo os puxadores das portas traseiras disfarçados na estrutura do vidro.
Já os puxadores retráteis das portas frontais, que funcionam na perfeição ao sobressaírem automaticamente quando o veículo deteta a chave, uma vez recolhidos, quando existe a necessidade de os manusear, requerem um pouco de treino para se conseguir abrir a porta apenas com uma mão.
Uma vez dentro do Honda e, deparamo-nos com um habitáculo como nenhum outro num carro deste segmento. Automaticamente os olhos são direcionados para o elemento que mais se destaca, o tablier onde se encontra o cluster de painéis digitais e os ecrãs das câmaras retrovisoras, seguindo-se depois um bailado por tudo o que é recanto e pormenor na frente e na traseira do habitáculo, descobrindo detalhes e particularidades que fazem este interior assemelhar-se a um género de salinha de estar com acabamentos bem construídos e de qualidade.
É o tecido dos estofos dos bancos e o castanho das costuras e dos cintos de segurança que nos remetem para os cadeirões vintage de uma sala lounge dos anos 60, é a suave imitação de madeira do revestimento do tablier e da consola central, são os botões principais de controlo do rádio e do sistema de infoentretenimento, e as grelhas de ventilação mais uma vez a lembrar os rádios antigos, sem esquecer os pequenos focos de iluminação posicionados centralmente no tecto suficientemente fortes para iluminar todo o habitáculo e que podem ser controlados aos pares pelos ocupantes traseiros.
Embora sendo um interior muito bem construído e com alguns materiais de
toque mais suave e agradável, esperava um pouco mais de atenção à qualidade
dos plásticos duros usados, principalmente tendo em conta o intervalo de
preços em que a marca posicionou o citadino.
Depois, temos a atualidade espelhada nos vários comandos da parafernália de equipamentos que tornam este modelo num hub de tecnologia, e nos vários tipos de tomadas para a conectividade dos mais variados aparelhos, existindo entradas USB, HDMI, uma tomada 12V de 180W e até uma tomada AC de 230V para ligar dispositivos ou pequenos eletrodomésticos, ou mesmo recarregar outro veículo elétrico graças ao conversor (algo que na pratica é possível, mas não muito viável ou recomendável).
O Honda e, principalmente nesta versão topo de gama, vem equipado com tudo o que podemos encontrar num modelo de segmento bem superior. Temos à disposição um pacote de sistemas de segurança e assistência à condução extremamente completo, condução semi-autónoma (derivada do cruise control), estacionamento autónomo (embora o condutor tenha que estar dentro do veículo), e monitorização "aérea" na assistência ao parqueamento ou marcha-atrás (embora exista alguma distorção vertical em algumas situações). Graças à inteligência artificial, conta ainda com um assistente pessoal (necessita de ligação à internet) com quem podemos "falar" e que torna uma boa parte da interação com o sistema de infoentretenimento mais fácil.
A adaptação a este tipo de retrovisores dependerá de cada um, no
meu caso foi pacífica e imediata, sendo que apenas o retrovisor central
requer a perceção de que o veículo que circula atrás de nós é visualizado
mais próximo do que na realidade se encontra, essa perceção é clara quando o
veículo pára atrás de nós e vemos o seu condutor como se este estivesse
colado ao nosso vidro traseiro sem vermos nada do capô do seu carro.
Oito segundos talvez possa parecer muito para um carro tão pequeno, mas é mais do que o suficiente para os cenários de condução para o qual foi concebido.
Outra consequência de termos a totalidade do binário disponível instantaneamente quando carregamos a fundo no acelerador, é a aceleração imediata e forte característica dos BEV, uma aceleração capaz de nos empurrar contra o encosto do banco e que dá vontade de repetir vezes sem conta sempre que arrancamos, mas totalmente desaconselhado se quisermos esticar ao máximo a autonomia.
O resto do ensaio foi pautado pela melhoria das condições climatéricas e um
misto de auto-estrada e rotas extra-urbanas de nacionais com alguns
percursos de serra, durante o qual foram registadas médias que variaram
entre 14,9 a 17,3 kWh/100km.
No final do ensaio, entreguei o
"pikachu" com o computador de bordo a anunciar um consumo combinado de 16,7
kWh/100km. Nada mau, tendo em conta que não houve qualquer preocupação em
realizar uma condução económica, que devido ao meu tempo foi utilizado o
desembaciador do pára-brisas por diversas vezes e que 80% dos vários
circuitos efetuados não beneficiaram a travagem regenerativa.
Não será fácil chegar à autonomia anunciada de 220 km da versão base ou aos
210 km da versão Advance mas, de acordo com o que pude apurar, poderá contar
com valores reais entre os 170 a 200 km de autonomia.
Enfrentando vários quilómetros de estrada debaixo de chuva intensa, o
pequeno Honda de tração traseira não se deixou intimidar e proporcionou uma
condução confiante o suficiente para que a minha preocupação se focasse
apenas nos outros veículos.
A direção tem a precisão de um kart, e para isso muito contribui a distância entre eixos de 2,538m e o raio de viragem que é de deixar qualquer um de boca aberta de tão curto que é (4,3m), perfeito para as ruas estreitas dos bairros citadinos mais antigos e do traçado sinuoso e apertado das típicas aldeias medievais. A travagem é suave e eficiente, quando necessário, e poderosa assim que pressionamos o pedal com um pouco mais de vigor.
O controlo de pedal único é um regalo no pára-arranca da cidade,
possibilitando ao condutor acelerar, abrandar e parar usando apenas o pedal
do acelerador. A força da desaceleração pode ser regulada conforme a
preferência do condutor através do seletor localizado no volante.
VALORES
O modelo é comercializado em Portugal com 5 cores à escolha: branco, preto, cinza escuro, amarelo e azul, e apenas dois níveis de equipamento, o e e o Advance. A Honda abrange ainda o modelo com 7 anos de garantia sem limite de quilómetros e dá 8 anos ou 160.000 km de garantia na bateria.
O primeiro nível de
equipamento tem um PVP inicial de 36.000€ que após despesas logísticas
ficará por cerca de 37.340€. Já o segundo é comercializado por 38.500€,
sendo que no final ficará por cerca de 39.840€. Se optar por uma das quatro
pinturas metalizadas acresce mais 650€.
No entanto, tendo em conta as suas dimensões, especificações e tudo o que o modelo oferece, se analisarmos de uma perspetiva comparativa com alguns dos seus atuais concorrentes diretos como é o caso do Mini Eletric, cujo PVP varia entre os 34.400€ e os 41.400€ (sem despesas logísticas), o preço do Honda e continua a ser elevado mas não tão descabido.
VEREDITO
Tal como aconteceu com os telemóveis cuja principal função (telefonar)
foi quase renegada para segundo plano em detrimento da conectividade e
informação, o Honda e explora esse
lado interativo com o seu proprietário e ocupantes como provavelmente nenhum
automóvel deste segmento o fez até agora. Elevando a sua principal função a
outro patamar, oferece uma experiência de condução diferente, tornando-se
tanto um meio de locomoção intuitivo como um meio tecnológico adaptável e
facilitador de informação, conectividade e interação artificialmente
inteligente centrado nas necessidades da vida diária do seu proprietário.
Durante um ensaio que começou bem molhado e acabou com o mau tempo a dar
tréguas, o pequeno adorável e fofo Honda mostrou-se um veículo apaixonante
que, apesar dos seus deslizes (alguns facilmente retificáveis, outros talvez
nem tanto), me colocou numa situação de "razão vs emoção", mas
conquistando-me e deixando-me com uma enorme vontade de "adotar" um.
Por um lado temos entre outros aspetos, o baixo custo de circulação, o design, a tecnologia e um habitáculo diferenciador que produzem um "je ne sais quoi" desejável que nos faz querer ter um, por outro lado temos a relação proveito/preço de aquisição que nos balança para o lado da razão, tornando a possível compra num acto mais emocional do que racional. É como ter um anjo e um diabo em cada um dos nossos ouvidos, com cada um deles a puxar a brasa à sua sardinha.
Conheça mais acerca do primeiro elétrico da Honda para o mercado europeu:
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C. Ruivo