22.2.17

Como a Honda quase foi impedida de fabricar automóveis

Soichiro Honda
inspeciona um N360
O sonho de conduzir um carro nasceu algumas décadas antes do "boom" da indústria automóvel japonesa, em 1916, quando Soichiro Honda tinha apenas 10 anos e se cruzara com um Ford modelo T, nas ruas da cidade de Tenryu. Este episódio ficaria gravado na sua memória para sempre.

Depois de alcançada a maturidade da marca Honda como fabricante de motociclos, durante os anos 60, a empresa começava a dar os primeiros passos para a construção de automóveis.
No entanto, o empenho e a perseverança do engenheiro Soichiro Honda quase não foi suficiente para fazer frente a um obstáculo difícil de vencer: a política.

Corria o ano de 1958, Yoshihito Kudo, diretor do Centro de Investigação e Desenvolvimento (I&D) da Honda, recebia uma ordem oficial para passar a coordenar, em completo segredo, a então chamada Terceira Divisão: "Honda decidiu fabricar automóveis. Prepara-te para muito mais do que o simples desenho da carroçaria."

A Terceira Divisão tornava-se assim no "motor" que levaria a Honda a entrar na indústria automóvel.
Com uma equipa de 7 engenheiros, iniciaram o primeiro projeto de um mini veículo com o código XA170 e que cumprisse o conceito de "Carro para todos".
Durante o desenvolvimento do protótipo, Soichiro Honda chegou à conclusão de que, para vencer mais facilmente na indústria, o melhor passo a dar seria criar uma nova procura ao invés de competir com os outros fabricantes que já dominavam o mercado. Assim, transmite nova ordem à Terceira Divisão: "Desenvolvam um carro desportivo."
Seguindo a diretiva, a equipa desenvolve um novo protótipo de 2 lugares e, em 1959, nasce o XA190.
E como não há duas sem três, desta vez seguindo ordens do co-fundador Takeo Fujisawa, um terceiro protótipo surge simultaneamente, um mini-camião com o código XA120.

Honda XA170 em testes
Em julho de 1960, Soichiro tomava uma decisão determinante para a multi-nacionalização da empresa: tornar o Centro I&D independente da empresa mãe. Esta decisão representava o compromisso com a inovação, dando ao sistema de desenvolvimento a contribuição de vários talentos criativos de outras áreas para além da do seu principal fundador.

Um ano depois, na altura em que os protótipos da Honda iam de vento em popa, o Ministério do Comércio e Industria japonês pôs em cheque todo o sonho de Soichiro. Com o objetivo de preparar a entrada de determinados setores económicos no mercado global, incluindo o automóvel, o governo criou a Lei de Promoção de Indústrias Específicas que pretendia limitar a entrada de novas empresas no mercado japonês.
Para Soichiro Honda, defensor da livre concorrência como forma de tornar o setor mais forte, isto era uma medida incompreensível.

Em 1983, numa entrevista televisiva para o programa "O homem que construiu a economia do pós-guerra", Honda explicava que "Não podia entender. Para o inferno com a Lei de Promoção de Indústrias Específicas! Eu tinha o direito de fabricar automóveis, e eles não podiam aprovar uma lei que permitia apenas os fabricantes existentes de o fazer e nos proibia a nós de fazermos o mesmo. Éramos livres de fazer exatamente o que queríamos. Para além disso, nada nos garantia que os que estavam no poder naquele momento estariam lá para sempre. Veja a história."

No entanto, apesar das estratégias de pressão de Soichiro, o governo apresentou a lei que, caso fosse aprovada, tornar-se-ia num grande obstáculo à evolução da empresa.
Só havia uma solução possível: apresentar números de produção suficientes para permitir à Honda fabricar automóveis caso a lei fosse aprovada.

Assim, em janeiro de 1962, a Terceira Divisão, agora com 15 engenheiros, recebe nova ordem: "Começar a produzir o mais rápido possível."
A equipa começa então a desenvolver como se não houvesse amanhã para cumprir o plano de ter 4 protótipos (dois mini-desportivos e dois mini-camiões) prontos até à segunda metade do ano.
Com a chegada do mês de junho, os novos modelos estavam prontos para serem revelados na pré-inauguração do circuito de Suzuka. O desportivo S360 foi um desses modelos, apresentado pelas mãos do fundador Soichiro Honda que o conduziu pelo circuito, com Yoshio Nakamura, chefe do projeto, como acompanhante.
O protótipo do S360 seria apresentado novamente, juntamente com o do S500 e o do mini-camião T360, no Salão de Tóquio. A versão de produção do T360, o primeiro veículo de quatro rodas da Honda, começaria a ser vendido logo em agosto do mesmo ano, seguido do S500 em outubro. Três anos mais tarde, era lançado o N360.

O governo japonês continuou a tentar que a sua Lei de Promoção de Indústrias Específicas fosse aprovada, mas isso nunca chegou a acontecer.

Apresentação do Honda S360 em Suzuka

Fonte: Honda
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