12.6.17

Ensaio > Civic 1.0 i-VTEC Turbo Executive Premium


Com mais de 30 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, o Civic é o modelo mais importante e bem sucedido da marca nipónica, gozando de uma mística por vezes difícil de descrever. No entanto, nos últimos anos, tanto o modelo como a própria marca tinham vindo a sofrer de uma apatia generalizada perdendo o efeito cativante, principalmente nas camadas mais jovens.

Longe vão os tempos em que o modelo mais conhecido da Honda cativava o interesse do público, mas com a chegada desta nova geração o Civic parece ter renascido das cinzas e tem se revelado uma verdadeira força de atração da curiosidade e interesse pelo mundo inteiro.
Nova plataforma, novos motores, novo design, novos interiores, novos equipamentos de série... uma revolução profunda e um modelo verdadeiramente mundial. É assim que o novo Civic se apresenta nos vários mercados.

Estará esta 10ª geração a virar o jogo? Terá a cativante alma desportista característica dos modelos dos anos 80/90 renascido com este novo Civic? Fomos descobrir.


DESIGN E EQUIPAMENTO
Graças à nova plataforma, o Civic está maior, quer em comprimento (+14,8 cm) quer em largura (+3 cm), aliás este parece ser o caminho dos novos hatchbacks que cada vez mais se parecem com sedans fastback do que com as antigas versões de traseira cortada dos irmãos sedans.
Mas não é só no comprimento e na largura que houve alterações, as novas linhas da carroçaria deixaram o Civic com menos 3,6 cm de altura e uma distância entre eixos 10,4 cm maior que a geração anterior.
Isto proporcionou à equipa de design da Honda a oportunidade de revolucionar o visual exterior do novo Civic, assim como a posição de condução que está agora 3,5 cm mais baixa.

Exteriormente, o Civic apresenta uma estética completamente renovada e muito única, mais arrojada, irreverente, agressiva e desportiva à qual é impossível ficar indiferente.
A frente é caraterizada pela grelha comum à restante família Honda, mas excecionalmente bem adaptada à controlada agressividade do modelo. Esta é flanqueada pelos faróis esguios, que nesta versão topo de gama são em LED (contribuindo para o "olhar" agressivo do Civic), e sublinhada por um para-choques que transpira desportividade graças às enormes entradas de ar falsas preenchidas por "grelhas" de trama hexagonal onde se encontram as luzes de nevoeiro em LED.
Enquanto a frente se mostra mais consensual, a traseira já nem tanto, com as opiniões a divergirem principalmente no que toca ao tamanho das falsas saídas de ar no para-choques. Os farolins, bem proporcionados na traseira, apresentam uma positiva evolução dos da geração anterior, acompanhando as linhas da carroçaria e o pequeno spoiler que divide o vidro traseiro, onde se aloja a luz do terceiro "stop". Aqui reside a outra controvérsia no design do Civic e que parece ter sido herdada do seu antecessor, a perda de visibilidade criada por esta divisão. Sinceramente, durante todo o ensaio esta pareceu-nos uma não questão, pois a redução da visibilidade criada por este fino spoiler não foi entrave a qualquer manobra, no entanto, admitimos que se existe algo que pode entrar em conflito com a visibilidade traseira não é tanto o spoiler mas sim o volume do terceiro "stop". Eventualmente, se este último passasse a ser integrado no spoiler do tejadilho, possivelmente esta controvérsia deixaria de existir.


A versão Executive (neste caso com pacote premium) vem equipada com jantes de 17", vidros traseiros escurecidos e um generoso tecto em vidro que ajudam a reforçar a postura forte do Civic e a aumentar a sensação de exclusividade e a dinâmica do exterior. O tecto em vidro abre apenas até meio e, na nossa opinião, só peca por abrir pouco quando em modo basculante (Tilt). O tecto, apesar de ser em vidro ligeiramente escurecido e atérmico, integra ainda uma proteção extra através de um "estore" em tecido preto translúcido.

O interior do Civic passou de estranho e confuso a lógico e consensual, com acabamentos de boa qualidade e desenho elegante e conservador q.b. para um veículo deste segmento. O volante em pele fornece um bom contacto e a disposição dos vários comandos da climatização, sistemas de informação e assistência à condução está mais intuitiva e mais simples de utilizar.
A mudança do painel de instrumentos, que passou de dois níveis para concentrar tudo na frente do condutor, foi uma das melhores decisões que a Honda tomou nos interiores, melhorando substancialmente a leitura e o entendimento da informação. O painel de instrumentos digital e a cores está bastante bem conseguido, apresentado no centro a visualização dos vários menus do rádio, telefone, informação da viagem, consumos, entre outros.

Na consola central, o ecrã de 7" tátil está perfeitamente ao alcance tanto do condutor como do passageiro, com a integração do sistema Honda CONNECT a permitir o acesso a várias informações, ao computador de bordo, ao eficiente sistema de navegação da Garmin e à integração de smartphones Android e Apple, bem como a instalação de aplicações por parte do utilizador. Infelizmente, e ao contrário do que já fez para o próximo CR-V, a Honda ainda não substituiu o modo digital de regulação do volume do rádio no ecrã pelo botão rotacional. Outro aspeto digno de nota é o reiniciar dos valores atuais dos consumos e distâncias percorridas, que é feito à moda antiga através do "botão" analógico no painel de instrumentos, apesar de o histórico ser eliminado digitalmente no menu do computador de bordo através do ecrã de 7".
Na zona inferior da consola, à frente da manete das mudanças, encontra-se a bandeja com o carregador sem fios para os smartphones compatíveis com a tecnologia, uma novidade exclusiva do pacote premium na motorização 1.0 i-VTEC Turbo.
Entre os bancos, o apoio de braço deslizante em pele oferece um apoio confortável e revela um generoso compartimento de arrumação com suportes para copos de tamanho normal e familiar.

O espaço para os ocupantes ficou maior e mais confortável quer à frente e atrás, com os bancos em pele a assumirem uma boa ergonomia e posição de condução. Na frente, embora os bancos tenham regulação elétrica para a zona lombar, infelizmente toda a restante regulação é manual e não existe opção de memorização. Atrás o conforto é aumentado pelo aquecimento dos bancos disponibilizado com o pacote premium.
Controvérsia anteriormente descrita à parte, a visibilidade geral para o exterior é boa. E a câmara traseira de estacionamento, que continua a funcionar perfeitamente, está presente para qualquer necessidade.

A bagageira, a maior da sua classe, conta com uns generosos 478 litros, onde o método tradicional de recolhimento da chapeleira foi substituído por um enrolamento lateral com a possibilidade de alterar o sentido do movimento mudando a "cassete" da tela de um lado para o outro.
A substituição do pneu sobressalente pelo kit de reparação permitiu a criação de um pequeno "cofre" por baixo da tampa do piso que facilita a ocultação de objetos ou o transporte de algo mais alto na vertical.


MOTOR E CONSUMOS
A versão ensaiada é alimentada pelo novíssimo motor a gasolina 1.0 i-VTEC Turbo de 3 cilindros, que com os seus 988 cc e 129 cv, o mais potente entre os motores tricilíndricos, se mostra vigoroso e competente quer numa utilização urbana quer extra-urbana e suficientemente energético para uma condução mais desportiva.

A junção de turbocompressores às tecnologias VTEC (controlo eletrónico do comando e abertura variável das válvulas) e VTC (controlo da temporização variável) revelou-se uma excelente opção por parte da Honda, com resultados bastante positivos. O comportamento do motor mostrou-se surpreendentemente responsivo e bem equilibrado em todo o espectro da caixa de velocidades, com o atraso do turbo a notar-se apenas nas recuperações quando em mudanças ligeiramente desadequadas para as rotações em que o motor se encontra, o que é perfeitamente compreensível. Os 200 Nm de binário às 2.250 rpm são mais do que suficientes para que as recuperações sejam feitas de forma rápida e previsível.
Com relações idênticas à caixa manual utilizada no Civic 1.6 i-DTEC (exceção apenas para a relação final que se aproxima mais da do anterior 1.4 i-VTEC), a transmissão de 6 velocidades é precisa, rápida e bem escalonada.

Com apenas 3 cilindros seria de se esperar um motor algo barulhento, no entanto, o 1.0 mostrou-se admiravelmente silencioso em qualquer regime, apenas denunciando-se, mas sem grande alarido, quando ao ralenti. Em aceleração, o som proveniente do motor dentro do habitáculo é até bastante simpático, dando a sensação de um motor mais potente.

Não sendo extraordinariamente surpreendentes para um motor desta capacidade, os consumos revelaram-se bons, principalmente se o pé direito não for uma bigorna no acelerador e os arranques violentos não forem uma constante.
Durante o ensaio de 505 km (20% em urbano, 50% em extra-urbano e 30% em autoestrada), registaram-se valores entre 6.4 e 7.5 lt/100km em percurso urbano, 5.6 e 6.1 lt/100km em extra-urbano e 5.2 lt/100km em auto-estrada. No final do ensaio, com uma condução linear e calma na maioria dos trajetos urbanos e de autoestrada, mas um pouco mais desportiva nos restantes e com o modo ECON ligado 90% do tempo, a média combinada foi de 5.9 lt/100 km, tendo ficado ainda com uma autonomia para mais 94 km.


COMPORTAMENTO E SEGURANÇA
Em cidade, a direção mostrou-se leve, precisa e rápida facilitando a circulação no movimentado trânsito citadino, assim como os estacionamentos e as manobras em espaços mais apertados.
Em estradas mais sinuosas, onde podemos testar o comportamento da suspensão e da maior rigidez da nova plataforma com uma condução um pouco mais desportiva, o novo Civic mostrou-se superior relativamente à geração anterior, gerindo bastante bem as descompensações provocadas por este tipo de traçados. Com uma atitude neutra, o Civic agarra-se bem nas curvas mesmo com a suspensão em modo normal. Mas se queremos ter um nível maior de confiança, é só ativar a suspensão adaptativa herdada da Civic Tourer. A partir desse momento o amortecimento fica um pouco mais duro mas com um comportamento notavelmente mais estável, embora as imperfeições de pisos mais irregulares fiquem ligeiramente mais evidentes, mas nada que comprometa o conforto.
Em auto-estrada, o comportamento é linear e o andamento suave e confortável. Aqui a aerodinâmica e a insonorização funcionam na perfeição, não havendo transmissão de ruídos exteriores e do motor dentro do habitáculo. Curiosamente, ao contrário do que aconteceu com outros modelos, a sensação de irmos a uma velocidade inferior à que realmente estamos não se fez sentir neste novo Civic 1.0 i-VTEC Turbo, a perceção da velocidade real é constante o que ajuda a evitar ocasionais multas de excesso de velocidade por distração.

Para além dos 8 airbags, o novo Civic vem equipado de série, em todos os níveis de equipamento, com uma variedade impressionante de sistemas de monitorização, de segurança ativa e assistência à condução: Travagem Atenuante de Colisões (CMBS), Avisador de Colisão Frontal (FCW), Avisador de Saída de Faixa (LDW), Atenuação de Saída de Faixa (RDM), Assistência à Manutenção na Faixa de Rodagem (LKAS), Controlo da Velocidade de Cruzeiro Adaptável (ACC), Controlo Inteligente da Velocidade de Cruzeiro Adaptável (i-ACC), Reconhecimento de Sinalização de Trânsito (TSR), Limitador Inteligente da Velocidade (ISA), Alerta de Esvaziamento dos Pneus (DWS), Assistência à Travagem (BA), Distribuição Eletrónica da Travagem (EBD), Assistência ao Arranque em Subida (HSA), Assistência à Estabilidade do Veículo (VSA), Suporte da Iluminação dos Máximos (HSS) e Sistema de Paragem de Emergência.
A versão mais bem equipada da motorização 1.0 (Executive) conta ainda com o sistema de Informação do Ângulo Morto (BSI) e Monitor de Trânsito Lateral (CTM), cujos avisos são visualizado através de um sinal luminoso no respetivo espelho retrovisor.
Todos os sistemas funcionam de forma eficiente e com uma precisão espantosa.
 
 
VALORES
O Civic 1.0 i-VTEC Turbo está a ser comercializado em 3 níveis de equipamento: Comfort (valor base de 23.300€), Elegance (valor base de 25.530€) e Executive (valor base de 28.830€) que pode ainda ser complementada com o pacote "Premium" (900€).
Se juntarmos a pintura metalizada (550€), neste caso em Azul Brilliant Sporty, e a taxa Eco, o valor da versão ensaiada, a Executive Premium, sobe para os 30.286€.
A estes valores acresce ainda as despesas logísticas e transporte (1.175€).

No entanto, aproveitando a campanha de lançamento de valorização adicional da retoma no valor de 1.500€ (em vigor até ao final do ano), acumulável com o desconto de 1.250€ de financiamento
poderá adquiri-lo por 27.536€.


VEREDITO
Do que gostámos?
Resposta e comportamento geral do motor
Honda SENSING de série (sistemas de segurança ativa e assistência à condução)
Nova disposição do painel de instrumentos
Disposição dos comandos, simplificação e facilidade de utilização dos vários sistemas de informação
Design dos interiores
Posição de condução

A melhorar?
Tamanho das falsas saídas de ar no para-choques traseiro (algo mais em linha com a versão sedan ou coupé)
Regulação dos bancos frontais (elétrica e com memória, como opcional nos níveis de equipamento de topo)
Inclinação do tecto de vidro em modo "Tilt" (ok, aqui pode ser apenas preciosismo, mas 1 ou 2 cm mais no tamanho da abertura seria mais agradável)

Em conclusão, a profunda renovação a que a Honda sujeitou o Civic fez com que o modelo tenha renascido com uma nova alma. Confortável e prático para o dia-a-dia da vida urbana, mas com a capacidade de fazer longas viagens sem deixar os seus ocupantes aborrecidos ou cansados.
O Civic 1.0 i-VTEC Turbo revela-se a opção mais indicada para quem quer o melhor compromisso entre dinamismo e eficiência de consumos. O comportamento geral do motor e a sua relação com a transmissão manual de 6 velocidades lembrou-nos o 1.6 i-DTEC da geração anterior. Se está a pensar trocar de diesel para gasolina sem perder os consumos baixos, esta é sem dúvida a melhor opção.
O motor a gasolina 1.0 é de facto uma agradável surpresa, de tal forma que a maioria a quem mostramos as suas capacidades jurou ser um motor de maior capacidade.
Destaque ainda para o excelente comportamento do chassis, permitindo uma condução mais desportiva sem comprometer a segurança.
Esta geração é sem sombra de dúvida um verdadeiro "upgrade" relativamente às anteriores... Ainda nos falta confirmar com a motorização 1.5 i-VTEC Turbo mas, a julgar por este 1.0, o espírito do Civic de outros tempos parece estar de volta!



C. Ruivo
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