Responsável pelo projeto NSX 2017 fala sobre a génese do novo desportivo
Enquanto a imprensa europeia conhece e testa o novo NSX em Portugal, o chefe do projeto Ted Klaus fala-nos sobre a génese, filosofia e o que significa o super desportivo para a marca Honda.
"Excitação, é claro! Eu trabalho na Honda desde 1990 e sabia o quão importante o original era para a marca e para os entusiastas dos carros desportivos. O que Uehara-san (chefe do projeto do primeiro NSX) e a sua equipa fizeram à 25 anos atrás tornou-se numa declaração do que um desportivo Honda deveria ser.
A oportunidade de refletir nessa filosofia original e experimentar mais além usando a tecnologia do século 21 era uma oportunidade única."
A oportunidade de refletir nessa filosofia original e experimentar mais além usando a tecnologia do século 21 era uma oportunidade única."
Pode partilhar connosco alguma das memórias do projeto? O que mais se destacou durante o desenvolvimento?
"Desde 2012, três coisas aconteceram que definiram o andamento do projeto.
Nós revelámos o protótipo no Salão Automóvel de Detroit em 2012. A resposta positiva dos media, entusiastas e público deu a sensação de que todos queriam que tivéssemos êxito. A energia e o compromisso que toda a equipa retirou disso foi vital para atingirmos as nossas metas.
Mas, como em todos os projetos, houve desafios bastante duros. Lembro-me do presidente Ito, que trabalhou como engenheiro chefe da carroçaria do primeiro NSX, dizer-me diretamente: 'Espero que te esforces neste carro como nós fizemos no original'. Na altura fez-me rir, mas tivemos desafios tanto para criar as várias tecnologias do carro como para manter o sentimento análogo a um carro desportivo. Estou confiante de que tivemos sucesso.
Outra grande memória foi uma viagem que a equipa nuclear do desenvolvimento fez ao Japão, para se reunir com os membros da equipe da primeira geração do NSX."
Falou sobre a filosofia de "carro desportivo" da Honda ser central no desenvolvimento do novo NSX. Pode dizer-nos o que quis dizer com isso?
"Desde o início do projeto, houve uma decisão fundamental que tínhamos de fazer: Este carro é um super-carro? Ou um carro desportivo? Então, nós olhamos para trás para o que foram os valores fundamentais do carro original.
Em primeiro lugar, que o desempenho deveria ser baseado em tornar o carro numa extensão do condutor. Ergonomia e visibilidade eram vitais e não deviam ser comprometidas. Segundo, que o desempenho deveria estar sempre acessível, independentemente da estrada ou da habilidade do condutor. Nas mãos do condutor mais experiente, deveria ganhar vida.
Com estes dois valores em mente, o NSX é sem dúvida um carro desportivo. Compacto, com um baixo centro de gravidade, chassis altamente rígido e uma excelente visibilidade dianteira, o NSX é um carro que está diretamente conectado com o condutor."
O NXS é diferente de muitos desportivos pela natureza da sua unidade de potência. O que o fez decidir pela tecnologia híbrida?
Como já mencionei, os valores do NSX original guiaram-nos no decorrer do projeto. Mas, tal como o primeiro NSX, queríamos levá-lo um pouco mais além. Possivelmente a consideração mais importante para mim e para a equipa, no que à unidade de potência dizia respeito, foi como ter o desempenho do carro acessível permanentemente. A unidade de potência que utilizámos dá ao condutor uma resposta instantânea, particularmente naqueles primeiros milissegundos após o condutor ter concretizado uma aceleração, travagem ou viragem.
Suportando diretamente todas as exigências do condutor, aceleração, travagem e em especial a direção, o manuseamento do carro ganha vida. A utilização da nossa tecnologia de binário vetorizado dá aquela sensação de curvar sobre carris. O condutor tem confiança para travar mais tarde, reduzir e acelerar mais cedo, para uma experiência de curvar mais gratificante."
O novo NSX é caraterizado por uma variedade de novas tecnologias. Como lidou com o desafio de integrá-las?
"Nós sabíamos que havia muitos elementos que primeiro teríamos de otimizar - a unidade de potência híbrida, o chassis, a aerodinâmica e por aí fora. O desenvolvimento foi um esforço global com os testes a serem efetuados nos EUA, Japão e Europa. Os condutores vieram de diferentes países, trazendo a sua experiência para refinar e afinar este carro.
À medida que fomos ficando mais confiantes na integração das tecnologias, uma nova sensação de carro desportivo familiar emergia. Quando me juntei às sessões de testes, descobri um novo nível de prazer de condução à medida que o veículo "desaparecia". O NSX tem uma resposta tão precisa e recompensadora, combinada com um nível de esforço bastante baixo por parte do condutor. É uma experiência que conduz a alma ao invés de abanar o corpo... para mim é como encontrar o parceiro de dança perfeito."
Por fim, de que mais se orgulha neste projeto?
"Claro, é evidente que a equipa esticou os limites tecnicamente, mas acho que o aspeto mais atraente do projeto é o que isso significa para a equipa e para a marca.
Este projeto permitiu-nos dar largas à nossa criatividade como engenheiros, atuando como incubadora para novos pensamentos. Isto é uma grande coisa para a marca Honda. Estes chefes irão agora seguir para outros projetos da companhia, aplicando neles as lições e filosofias aprendidas com o NSX.
Muitos dizem que, no passado, a Honda tem sido conhecida por ser um líder em inovação de engenharia. E alguns acusam-nos de termos perdido o rumo. Mas, com este projeto procurou-se construir uma ponte, que levará a Honda de volta às suas raízes de inovação e excelência em engenharia, mas também para o futuro, aproveitando a tecnologia de próxima geração para entregar um carro que é exclusivamente Honda".